“De onde
eu venho, se você chamar isso que você faz de Hip Hop, você corre o risco de
ser esfaqueado” – Brian “Footwork” Green.
A minha
frase veio de uma história que eu já contei várias vezes. Mas, que é tão
potente e importante para mim que nunca me canso de contar. Aqui vai de novo: lá
por volta de 2006 eu estava em Curitiba com a Tati Sanchis. Estávamos lá para
trabalhar e para estudar. Era um evento de Fitness com um bloco dedicado à
dança dentro das academias de ginástica. E muita gente boa da dança mundial
estava lá para gerar experiências nesse setor dançante, incluindo este que vos
escreve, minha digníssima companheira e um cara chamado Brian Green.
Foto: Dropbox Henrique Bianchini
Até hoje
o considero um dos maiores dançarinos que a contemporaneidade pode apreciar. Um
dos corpos mais inteligentes e carregados de ancestralidade que já presenciei.
E, se hoje o tenho sob tão alta estima, naquela época, em que tudo ainda era
muito novo para mim, era quase como se eu estivesse na presença de uma entidade
cósmica. Um Deus da dança. Pois dei minha aula (coreográfica, é claro, pois até
então eu sabia ainda menos do que sei hoje sobre o professor que queria ser)
dentro do módulo de “dança para academia de ginástica” no evento de Fitness.
Uma
coisa qualquer feita de danças sociais mal executadas em um corpo que só queria
estar certo. E Brian Green entrou na sala. Enquanto eu fazia uns waves e
vibrations involuntários ao perceber a presença dele, ele assistiu. Por cerca
de 30 segundos. Trinta fucking segundos depois ele virou as costas e se retirou
da sala. Acabou a aula. Eu saí da sala. Ele estava lá fora. Fui me apresentar.
Pronto. Veio a frase. Eu decidi parar de dançar naquela mesma hora.
Para mim
chega! Se o que eu mais queria era estar
certo, agora um ídolo não apenas me disse que eu estava errado, mas me disse em
uma frase que continha a palavra “esfaqueado”. Estava ruim mesmo. Mas o que
realmente aconteceu foi que depois de uma boa noite de sono e um pouco de
lágrimas, eu acordei puto. E com a certeza do que queria fazer: Estudar esse “caraio”
dessa dança até entender de verdade o que ela é. Pronto. Morreu um dançarino
presunçoso. Nasceu um pesquisador cauteloso.
Obrigado, Brian Green.
Texto de Henrique Bianchini
(22/03/2021).
Imagem: Facebook Henrique Bianchini